Pai e Filha

 O pai e a menina entraram no café de mãos dadas.  Eles se sentam e rapidamente a menina escorre pra debaixo da mesa. Tudo a diverte: A sujeira do chão, o pé acrílico da mesa, o sapato do pai. O mundo embaixo da mesa é outro. As costas do homem dóem, a menina não pára quieta.  Seus olhos grandes percorrem as outras mesas a procura de aventuras. Os olhos do pai buscavam em pernas femininas algum consolo. O homem sorvia seu café e a criança ali era o seu erro materializado. Coisa que já fora parte dele não podia prestar. A menina era um mistério cruel. Era pequenininha, o acidente, e olhava o mundo atenta, como se estivesse sorrindo. De repente, de tanta agitação de vida no seu peito, desequilibrou-se e caiu da cadeira. Na queda ainda bateu a cabecinha na quina da mesa.  O filetinho de sangue a fez chorar, o machucado mesmo não doía. Foi só o susto. E o pai limpou sua testa com os guardanapos de papel. Acabou o passeio. Garçon traz a conta, olha a menina com simpatia. Ela toda vermelhinha, os olhos ainda úmidos. O mundo não é lugar pra crianças. O pai e a menina iam sair do café de mãos dadas, mas ela libertou a sua mãozinha, saiu correndo pela calçada, livre como um passarinho. O pai a seguia de longe, sem saber ainda pra onde levaria a menina.


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