Cura


Uma mulher me recebeu enquanto eu estava doente.
Talvez o meu sangue tenha lhe molhado um pouco os cabelos
Eu pensei que a amava, enquanto estava doente.

Continuo dobrando esquinas e destinos,
permaneço cansado diante de tudo,
mas seus olhos grandes, claros e fixos
acenderam as luzes daquela manhã e de outras.

Minha alma já não me pertence.
Trago a memória da respiração de uma mulher
e já não quero morrer.

Amor



Te amo como a moça que arde em febre e não dorme,
Por longos corredores desertos,
Muito antes de te amar.
Te amo como a um filho, um irmão.
Como alguém partindo, como quem consente.
Te amo como quem se cura de uma doença grave,
Como quem antes chorava pelos cantos da casa.
Te amo como o sol nos pátios dos sanatórios, dos presídios,
E entre os rostos de vidro dos santos nas catedrais.
Te amo como quem divide um segredo ou entende uma história.
Como quem precisa, por um período longo ou curto de tempo, ouvir o som de sua voz.
Como se sua voz fosse luz.
Como se falássemos um idioma que só nós conhecemos.
Como se só nós soubéssemos que horas são e a que horas o sol vai nascer.
Como alguém que acabou de lembrar que é feito de lembranças.