Cotidiano



É o seu primeiro dia no ambulatório do hospital geral do estado e ele precisa contar ao homem na sua frente que seus exames diagnosticaram uma doença rara e incurável.
  
O homem na sua frente trabalha como perfurador de uma companhia de gás, fez um exame de rotina porque a filha o obrigou. Agora espera saber o resultado.

A técnica de enfermagem que passa pelo corredor e vê as radiografias expostas na sala do jovem médico lembra que precisa retocar a maquiagem de seu olho machucado.

O auxiliar de limpeza do hospital abraça a técnica de enfermagem no depósito, após tê-la flagrado chorando.

Ao ver o rapaz e a enfermeira saindo do depósito a faxineira perde-se em reminiscências da infância.  

A médica residente comenta com a recepcionista que a faxineira derrubou por acidente um frasco de éter no quinto andar.

Naquela noite, ao sair do hospital, a recepcionista receberá um elogio de um estranho. Em casa, sorrirá na frente do espelho.

Em silêncio, a filha da recepcionista observa o mundo através do vidro dos óculos.

O motorista do ônibus que passa pela rua ainda não sabe, mas será pai.

No mesmo ônibus viaja uma mocinha que ainda esta tarde confessará seu amor por uma prima carnal.  

A prima da mocinha precisará largar o emprego, pois o seu pai está com uma doença rara e incurável.



3 comentários:

  1. O que você escreve faz o tempo suspender o ritmo e pensar sobre o que está escrito. Tudo é muito forte.

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  2. Cláudia, tem um selo pra você lá no meu blog (melodiainvertida.blogspot.com).

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  3. Verdade...
    E achei que este texto tinha um "quê" de quadrilha, de Drummond...

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