Sobre o Silêncio.




Deus disse: Faça-se a luz! E a luz foi feita.

Essa passagem bíblica, acredito, é um dos poderosos fatores que contribuíram para a valorização da palavra na nossa cultura. Em última instância, valorizamos as palavras porque acreditamos, pobres de nós, que elas constituem o nosso único, ou mais eficaz, instrumento na construção das relações.

Li uma vez uma frase que nunca me saiu da cabeça:

“Em todas as famílias, há coisas que não são ditas e que matam.”

Não conheço a autoria da frase, nem lembro onde a li, mas ela permanece captando a minha atenção. Acredito que isso acontece primeiro porque acredito na frase, segundo porque acredito, também, no oposto da frase: Há coisas que não são ditas e que nos salvam.

De todo modo, não são as palavras que determinam o que vai ser de uma relação. Há o subterrâneo das palavras, o não dito (porém relevante) inconsciente.

Nesse sentido, considerando o inconsciente como elemento importante nas relações, principalmente as afetivas, nos deparamos com um paradoxo: as palavras, na maioria das vezes, nos servem para negar, ou camuflar, o que verdadeiramente nos move de forma inconsciente.

Lembro agora um fragmento de uma canção de Herbert Vianna e Paula Toller, em que o sujeito nos conta: “Você sorriu e me propôs que eu te deixasse em paz/ me disse vá e eu não fui”.

Podemos pensar, na nossa vida cotidiana, quantas vezes desconsideramos as palavras porque intimamente sabemos que, nem sempre, elas dizem o que queremos dizer: ou são insuficientes, ou não podem dar conta da complexidade de certos sentimentos (não podem traduzir completamente o nosso mundo interno), ou as usamos, muito comumente, para mentir.

Por isso, ás vezes não vamos, ou vamos, independente do sujeito amado nos dizer sim, ou não. É que o amor é muito maior do as palavras. Ou ainda, ele se revela, ou não se revela, no silêncio dos gestos, dos olhares. Temos que cultivar a sensibilidade de perceber a sua verdadeira linguagem.