Uma peça curta


Ela (chorando): O mundo tal qual conhecemos nunca mais vai ser o mesmo.
Ele (sorrindo): O mundo tal qual conhecemos nunca mais vai ser o mesmo.

Os dois param um tempo. Ela parece pensar.

Ela (sorrindo): O mundo tal qual conhecemos nunca mais vai ser o mesmo.
Ele (enquanto lhe escorre uma lágrima): O mundo tal qual conhecemos nunca mais vai ser o mesmo.

Os dois param um tempo. Se entreolham longamente.


FIM

Há os que se tornam muros

E já nada lhes atravessa.

Um encontro


Hoje fui ao mercado e um menino me pediu pra comprar uma Coca Cola pra ele. Eu comprei e quando fui lhe passar a garrafa, ele deu um jeito de segurar a minha mão. Uma criança precisa segurar a mão de um adulto, às vezes. Isso é constitutivo. Eu segurei a mão dele tentando lhe garantir algum conforto, alguma segurança. Ficamos assim algum tempo, daí ele me largou. Espero que eu tenha sido uma boa mãe relâmpago pra ele, naquele breve encontro no mercado. Tem horas que a gente experimenta na carne que cada criança que nasce é responsabilidade da humanidade inteira e que existem esses poderosos pontos de intersecção que nos unem com a força dos séculos. Espero que a marca do afeto e do cuidado tenham sido profundamente introduzidas na alma daquele menino e que ele nunca esqueça que sempre haverá uma mão humana para lhe guardar. Quanto a mim, ele me salvou.