Sobre Parar de Fumar


Me despeço do cigarro como quem se despede de um amigo. Silencioso, elegante no seu fraque branco.  
Fumar sempre foi dar uma pausa na existência, um suspiro de alma.  Agora me vejo querendo ser livre do vício, esse vício que destrói (sem um pouco de destruição, nada se cria) e ganho o concurso, não sei o que fazer com o prêmio.
É que na minha idade já se começa a deslumbrar o dia em que a ambição não é mais dinheiro ou glória, mas conseguir ir ao banheiro sozinha.  Paro em nome do futuro, essa coisa que chega desapercebida, que talvez não exista.
 Abdico do cigarro em nome de outro amor maior. Nossa despedida é dolorosa.
Na verdade, eu nunca gostei de fumar, disfarçava o gosto com um cafezinho. Mas eu gostava dessa mistura: Um trago, um gole, um amargo, um amargo mais doce.  Parece tanto com a vida. 

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