Sobre a Inveja.


Há quem diga que a inveja é o primeiro sentimento humano, o bebê teria inveja da autonomia da mãe, antes mesmo de poder amá-la. Há quem diga que existe uma inveja branca, que se confunde com a cobiça, quando o desejo é ter para si aquilo que o outro tem, e uma outra inveja, uma inveja ruim, quando o desejo aponta no sentido de destruir o que pertence ao outro. Nesse último caso, o sujeito está numa situação tão precária que já não tem nada de seu, seu foco está totalmente voltado para o alheio, ele quer o negativo, a subtração. Há quem diga que a inveja é, por isso, um dos piores sentimentos humanos. Há quem diga que um bom banho de sal grosso limpa as energias negativas que emana do olhar dos invejosos. Há quem diga muita coisa, mas confessar que sente inveja, isso ninguém diz. A inveja é silenciosa, corrosiva, é o calo mais dolorido no pé de quem a sente. É que o pântano do qual a inveja brota é escuro e ninguém quer admitir que fossas e lamaçais compartilham espaço com o brilho interior no edifício de nosso ser. É uma pena. Nietzsche escreveu que "se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você." O problema de não olhar o abismo é que você pode cair dentro dele. 





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