Para Ela



Tenho vivido assustado, sob sombras
Desde o dia em que te conheci.
Tu vieste à minha vida como o sol,
Vieste buscando o seu caminho entre frestas,
iluminando os meus porões sombrios.
Resta o medo desse dia escurecer.

Tu, nos meus sonhos, já brincavas entre nuvens,
com teus sorrisos de luas e estrelas.
Vertias a tua beleza naquela e em outras manhãs.


Claudia Barral

Mulher


Pela manhã, funde-se num copo, um quadro, uma fita, forma uma fila de janelas. A luz adentra seus vidros, cabelos, cadeados. Seus dedos me espetam, riscam a louça.  Ela amanhece com a casa, o sol lambe-lhe os tijolos, as curvas.
À tarde, transmuta-se em azulejos, as grandes rodas dos ônibus, o fio que conduz as palavras, o mar que molha a cidade. Seus olhos se tornam azuis, seus cabelos são algas e as unhas conchas.
Mais tarde é o preto da noite, os faróis dos carros e tudo mais que vence o dia. As estrelas, os dragões que ali habitam, as explosões e os silêncios.



"Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir".

Manuel Bandeira

Sementes


Ser mulher é sangue e espera.
Também vem de outras formas: a delicadeza,
os mistérios das carnes,
a voluptuosidade.
Ser mulher é caminhar os subterrâneos, embrenhar-se,
Voltar ao sangue: O vermelho sem economias,
os azeites,
o céu de maio em contraponto com a água,
a capa da menina,
o morango, a melancia,
os olhos da besta fera,
as línguas.