Pele



A pele abraça, envolve, separa
A pele é limite que o tempo marca
A pele tela que o artista risca
Pássaros no ventre, flechas no coração
A pele doce que a língua toca,
Que se estende como um mapa
A pele fina que o prego fura
Gota vermelha na noite funda
A pele que, elástica, serve à mãe e ao bebê
A pele que, um dia, desintegra
A pele seda, pêssego, mármore
Quando o sol queima, fruta de carne, descasca inteira

 


A vida me perguntou e eu disse sim.

-Tem certeza?
-Sim.
-Vai doer, dá trabalho, aquela coisa toda que você já sabe...
-Sim.
-No centro de uma sala negativa?
-Sim.
-Morrendo de medo?
- É. Sim.
- Em meio a um universo de improbabilidades?
-Sim. Sim.

(A vida me perguntou e eu disse sim.)
Tudo é nascente e som,
Tudo sobe:
Gotas de chuva, cachoeiras.

Tudo em seu derradeiro tom,
Tudo chove:
Semblantes, selvas, palavras.

Outro Sonho


O homem invisível apanhou o seu chapéu invisível e saiu pelas ruas.
A casa vazia não sente a sua falta.
O cão invisível desistiu de esperá-lo, ele nunca voltou.
As montanhas, as pontes, as portas o viram e esqueceram.
Apenas paredes nuas guardam o seu retrato.
O homem invisível desfez-se sem ter sido mais que um sonho,
um sonho que morreu na noite de um homem real.