Jandira


Eu não sabia que marimbondos mexiam o pescoço. Mas ela virou o rosto em minha direção, a mamãe marimbondo, quando eu inventei de molhar a planta sob a qual ela estava construindo o ninho dela, na minha varanda.

Nos encaramos. Duas mães com suas crias. Havia uma música de faroeste na minha cabeça, na dela, minúscula, não posso afirmar o que rolava. Ou posso?

Tive uma identificação imediata com o minúsculo inseto, ela era tão próxima, uma mãe protegendo a sua casa, e tão distante, um inseto com um ferrão.

Meu primeiro impulso foi matar. Em nome do amor, claro.

- Ela vai ter que sair.

- Por que, mamãe?

- Porque esse bicho morde. É a nossa casa.

- É a casa dela também.

Como chegamos a isso? Uma casa dentro da outra? A casa dela dentro da minha.

O inseto cercado de ovos, em sua engenhosa casa de barro. Os olhos da minha cria estavam iluminadíssimos pela curiosidade, pelo perigo. Então fizemos o que os humanos fazem, a única saída para a nossa violência irracional: nomeamos.

- Ela vai se chamar Jandira.

Jandira não se mexeu. Seus minúsculos olhos fixados em mim.

- Ela pode morar com a gente? Minha filha perguntou.

Na minha cabeça, vieram outras perguntas: mas e quando os filhotes dela nascerem? E se nos morderem? E se?

Jandira estava imóvel, era como se me alertasse: não se constrói uma casa assim, no medo.

Eu entendi.  E ambas voltamos para as outras atividades que exigem a nossa coragem. E que na maternidade são muitas.

 


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